quinta-feira, 21 de março de 2013

Mudaram as estações


E chove em São Paulo... Eu não sou dada a tempo chuvoso, nublado, cinza e frio, mas eu consigo conceber a necessidade deles – principalmente após o calor do Senegal que fez nessa terra em que vivo – e da sensação de encerramento de um ciclo e início de outro.
E toda vez que chega março eu lembro das águas de março que fecham o verão e que trazem a promessa de vida no seu coração. "Águas de março" foi composta por Tom Jobim em março (meio que óbvio) de 1972. O tema começou a ser trabalhado ao violão em seu sítio do Poço Fundo, em São José do Vale do Rio Preto, região Serrana do Rio de Janeiro – que vamos combinar, chove pra caramba – e de acordo com depoimento de Thereza Hermanny, esposa de Tom à época, a inspiração para "Águas de Março" surgiu ao final de um dia cansativo de trabalho provocado pela composição de "Matita Perê" (futura parceria com Paulo César Pinheiro), de onde decorrem os primeiros versos "é pau, é pedra, é o fim do caminho".
Tom, ainda de madrugada, bateu na janela e acordou a irmã Helena e o cunhado para lhes mostrar o primeiro rascunho da letra, com a introdução e as primeiras frases, escritas a lápis em um papel de embrulho de pão. Não surpreende que em um primeiro rascunho da letra contivesse um grande número de referências pontuais: "o projeto da casa", "a viga", "o vão", "a lenha", "o tijolo chegando", "o corpo na cama”, ou seja, a pura preguiça (no bom sentido).
De volta ao Rio de Janeiro, concluiu a canção em uma tarde. Assim que a terminou, Tom passou no Antonio's, um restaurante que frequentava e convocou todos os amigos que ocupavam a varanda para ouvirem, na sua casa, a música nova.
Segundo consta, a canção teve duas grandes fontes de inspiração. Uma é o poema "O caçador de esmeraldas", do poeta Olavo Bilac ("Foi em março, ao findar da chuva, quase à entrada / do outono, quando a terra em sede requeimada / bebera longamente as águas da estação (...)") e a outra é um ponto de Umbanda, gravado com sucesso por J.B. de Carvalho, do Conjunto Tupi ("É pau, é pedra, é seixo miúdo, roda a baiana por cima de tudo").
E no fim é uma reflexão para o fluxo da vida, do ano, dos meses... Quer representação de transformação maior que as estações do ano? Num momento filosófico me atrevo a dizer que a vida é uma estação mesmo... tem um período seco, árido, depois uma tempestade, umidade pra no fim poder renascer saudável, mais uma vez.
Em qual disco você pode achar: Elis & Tom (1974)

domingo, 10 de março de 2013

Qualquer semelhança não é mera coincidencia

Que todo mundo tem ideias de "gênio" isso é fato. Claro, tem gente que abusa da "genialidade" e faz umas besteiras dignas de uma ameba. Eu tentei me manter imparcial sobre determinados assuntos neste blog, entre eles futebol.

Quem me conhece sabe que sou corinthiana até o último fio destes cabelos longos e castanhos mas, até eu, no auge da minha paixão não dispararia um sinalizador nem pro alto e nem contra a torcida adversária. É óbvio que ia dar merda.

Quer ver como isso é histórico? Trarei aqui um exemplo, leitor "amadenho". Em 1971, o Deep Purple foi para Montreux, que fica na Suíça, gravar um álbum e na ocasião eles estavam usando um estúdio móvel muito conhecido naqueles tempos chamado, Rolling Stones Mobile Studio. 

Até ai tá tudo certo. Um dia antes de iniciar as gravações rolou um show do Frank Zappa and The Mothers no teatro Cassino Montreux e foi aí que começou a sucessão de desgraça. No meio do solo de sintetizador de “King Kong” um incêndio se iniciou e UM GÊNIO que estava na platéia disparou um sinalizador no teto de rotim. Resultado: um incêndio generalizado que destruiu apenas a estrutura do cassino e TODOS os equipamentos da banda de Zappa. Olha que joia!

A fumaça das chamas se espalhou pelo lago de Genebra, o que deu origem ao nome da música Smoke on the water. A confusão foi tanta que o Deep Purple teve que deixar o hotel que ficava em frente ao cassino e procurar por outro. Por estarem com uma unidade móvel muito cara, acharam melhor não correrem o risco que tudo fosse lambido pelo fogo.

Após alguns dias de procura, acabaram se hospedando no Grand Hotel de Montreux, no qual alguns corredores e escadas se transformaram em um estúdio improvisado. Boa parte do Machine Head foi gravado lá, incluindo Smoke, apesar de esta mesma ter sido escrita depois. De uma grande tragédia saiu algo bom mas, nem sempre isso acontece. 

Portanto, sábios torcedores e por favor, não vamos nos esquecer dos outros "gênios" que soltaram fogos de artifícios no palco da boate Kiss e causaram uma tragédia de grande proporções, parem de inventar moda! A segurança em locais públicos agradece.

Em qual disco você pode achar: Machine Head (1972)


domingo, 3 de março de 2013

As mentiras que as pessoas contam

Quem nunca bebeu demais que atire a primeira pedra. O triste de beber demais é que, via de regra, o dia seguinte é regado a muita água (de coco ou não), dor de cabeça, enjoo e a famosa frase "eu não vou beber nunca mais". É como promessa de ano novo: você sabe que não vai cumprir mas mesmo assim você faz para dar um jeito na ressaca moral.

Ah! Como é oriundo do ser humano mentir não? Dou 1 semana para a promessa cair por terra. E quem não bebe não tem história pra contar (pelo menos não suas e sim alheias). Digo mais, as maiores culturas inúteis  - ou úteis, depende do ponto de vista - e os melhores círculos sociais e bandas notáveis se formam na mesa de bar e regado a bebida.

Taí o Matanza que não me deixa mentir. Quer filosofia de boteco melhor que essa?? Abaixo transcrevo a bela canção que está regendo o meu domingo:

"Eu não bebo mais
Chega de beber conhaque de alcatraz
Gasolina de avião e óleo diesel "num" copo com limão

Eu não bebo mais
Show no Mercy, reign in blood, death rite
Cicuta club soda, gin é foda e Pau pereira nunca mais"

Te garanto que o dia que esse cara compôs essa música a ressaca estava nervosa. Mas, caro leitor deste bloguinho, falarei mais dessa banda que tem um clima de faroeste e arranca risos e te lembra de coisas impublicáveis.

Matanza foi criado para ser uma banda de diversão. Claro, tudo que envolve dinheiro e obrigações fica um pouco sério mas, falar sério o tempo todo enche o saco e até no campo musical é assim. Falar de amor, de desgraça, de morte e de mazelas é bom para uma tarde chuvosa e você olhando com cara de paisagem pela janela. Música inglesa me dá essa sensação de reflexão. Hoje eu não tô pra música inglesa, tô pra ouvir que bom é quando faz mal! Todo mundo gosta e precisa rir.

Veja a ideia das composições e se permita a concordar que é engraçado demais:


"No início era só falação de merda. Era “Eu Não Bebo Mais”, “Ela Roubou Meu Caminhão”, éramos muito isso, muito de verdade pra gente. Bebíamos pra caralho, naquele momento só fazia sentido falar disso. Eu tenho o maior orgulho disso, realmente acho que a gente inventou um estilo, eu não conheço banda que faça country hardcore. Conheço uma porrada de maluco que faz country rock, southern rock… Aquele disco, o “To Hell”, só com músicas do Johnny Cash, é um disco de country hardcore. Tocamos 13 músicas de 13 maneiras diferentes de misturar country com hardcore, não com rock. Aquilo ninguém fez. Se nós tivemos um momento do ápice do country hardcore, é aquele momento. E o mérito é do compositor Donida, que eu considero um maluco brilhante, fora do normal."

Para fechar, só digo uma coisa: Um beijo pra você, que assim como eu, se divertiu horrores no sábado, ensaiando no estúdio, bebendo vodka como se não houvesse amanhã (aham, tá senta lá Cláudia) e está arcando com as consequências disso.  Fica a minha promessa: Eu não bebo mais.