Dia 15 fará 01 mês que minha avó foi-se deste mundo. Dias de luta... Lembranças que os meus vinte e oito anos nesta casa convivendo com ela me traz dia após dia. Do "cheguei vó!" até o "lembrou que tem vó?".
Não se enganem... ela não era um doce de candura. Muito autoritária, muito negociadora, muito firme, teimosa como todo bom italiano deve ser. Ao mesmo tempo, dependente emocionalmente, beirando ao mimo de uma criança.
Minha avó me trouxe lições de vida, contou-me histórias fantasiosas de seu passado, me defendeu por várias vezes e fez minhas vontades, sendo eu a vecchiaia. Irônico não?
Os dias não ficaram mais fáceis depois de sua morte. Agora não tenho a verdadeira vecchiaia para tirar o medo. Troco de mal com Deus várias vezes por ter levado a pessoa que mais amou a vida e viver.
Este texto não é leve. Não é alegre. Não é colorido. É um cinza... cinza de saudades. Não espero pêsames, espero entendimento da vida. Te entendo João. Sei que o que te levou a escrever "Espelho", em conjunto com Paulo César Pinheiro, foi o seu velho pai, boas lembranças, uma autobiografia... memórias de um jogador que chutou mal e machucou o dedo de verdade, mas não tinha mais quem o amparasse.
Faz parte do jogo. As vezes saímos de um campo, para vencer em outros. João fez isso. Deixou de ser futebolista e se tornou um excelente cantor/compositor. Vai ver que é isso que me espera. Só espero que meu espelho nunca venha a se quebrar.